Os cabelos loiros começaram a atrair os romanos há mais de
2.000 anos, quando eles invadiram a Gália e os viram pela primeira vez na
cabeça dos escravos. Como forma de sedução, os nobres de então confeccionavam
perucas com os cabelos dos derrotados, e, quando tiveram conhecimento
suficiente, iniciaram o uso de pomadas descolorantes.
Conta-nos o historiador Plínio que uma das fórmulas mais
utilizadas naquela época era feita de uma mistura de cinzas de faia e sebo de
cabras, em forma de pasta ou líquido.
Na época do renascimento italiano, as mulheres de Veneza
ficavam de 3 a 4 horas sob o Sol, com os cabelos impregnados de lixívia
cáustica, fazendo uso de um chapéu sem fundo, desenvolvido para este fim, para
obter um “loiro veneziano”.
O primeiro relato sobre a aplicação de água oxigenada nos
cabelos com a intenção de descolorir é de 1867, na França, onde o inglês
Thiellay aplicou-a, com sucesso, na forma de “10 volumes”, criando a base de
quase todos os descolorantes usados até hoje.
Hoje, a descoloração dos cabelos é realizada com um destes
objetivos: clarear os fios com intuito estético ou prepará-los para a aplicação
de tintura que seja mais clara que a cor original.
A cor natural dos cabelos é dada pela melanina, pigmento
proteico produzido no retículo endoplasmático do melanócito. Existem dois tipos
de melanina: a de coloração marrom-acastanhada, de forma granulada, chamada de
eumelanina, e a amarelada ou avermelhada, difusa, chamada de feomelanina. A cor
final dos fios vai depender da interação entre essas qualidades.
Na descoloração, que é um processo com fases, percebe-se que
os pigmentos granulosos diminuem gradativamente à medida que os difusos
tornam-se mais aparentes, o que denota, provavelmente, que os pigmentos
granulosos sejam mais sensíveis aos produtos oxidantes e, portanto, sejam
destruídos primeiramente, deixando antever a parte difusa.
Outra teoria diz que os pigmentos granulosos podem ser
solubilizados, transformando-se em pigmentos difusos.
Quando o processo se prolonga, pode ocorrer a destruição
total de todos os pigmentos, levando os cabelos a ficarem brancos. Quando se
quer tonalidades avermelhadas ou acastanhadas, pode-se interromper esse processo
em algum momento e assim obter essas colorações.
Os grãos de melanina são fixados à queratina por meio de
polipeptídios, que fazem parte da própria matriz proteica do pigmento. Para
atingir esses grãos é necessário transpor a queratina e o suporte proteico da
melanina.
Praticamente todos os descolorantes são oxidantes alcalinos,
cuja função é solubilizar os grãos de melanina, mas essa solubilização está
sempre ligada à ruptura oxidante das pontes de dissulfeto da trama proteica e,
em última instância, a uma consequente modificação das propriedades físicas e
químicas dos cabelos.
A utilização de corantes capilares está associado à
descoloração. Corantes capilares permanentes começaram a ser usados pelas
pessoas com mais frequência após 1945. Por volta de 1965, aproximadamente 40%
das mulheres adultas utilizavam corantes capilares permanentes.
As tinturas de cabelo são misturas complexas de corantes e a
sua principal via de exposição é dérmica. Podem ser classificadas como
oxidantes (permanentes) ou diretas (semipermanentes ou temporárias).
Historicamente, a utilização do termo “semipermanente” foi
reservada para tinturas pré-formadas de materiais corantes, que são utilizados
diretamente sobre o cabelo sem a necessidade de ocorrer o desenvolvimento de cor
por meio de reações químicas de oxidação. Mais recentemente, as embalagens de
produtos para colorir os cabelos têm trazido a terminologia “semipermanente
mais duradoura” ou “demi-permanente”, para que estas evidenciem que esses
produtos proporcionam durabilidade maior da cor do que corantes diretos, mas
inferior à dos corantes capilares permanentes.
Devido às diferenças de exposição a produtos químicos e a
processos oxidantes (versus não oxidantes), é importante fazer distinção entre
esses tipos de produto, por meio de estudos sobre os potenciais efeitos
adversos de tinturas de cabelo na saúde.
Questões que se colocam frequentemente é o uso de
descolorantes e colorantes durante a gestação e os eventuais efeitos
carcinogênicos desses produtos.
Até onde se sabe, e até porque a gestação é um período
fisiológico da vida da mulher, o uso desses processos não tem interferência na
gravidez e, portanto, não deve ter nenhuma influência no desenvolvimento do
feto. O que existe é uma eventual indisposição ou um processo alérgico, que
pode acontecer em qualquer momento da vida.
Para finalizar, a Agência Internacional para Pesquisa sobre
Câncer (IARC, na sigla em inglês) concluiu, no relatório de 1993, que “o uso
pessoal de corantes de cabelo não pode ser avaliado quanto à sua
carcinogenicidade”, devido à evidência inadequada.
Estudos posteriores podem e devem ser conduzidos sempre no
sentido de proteger o consumidor final.